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Doce Cafeína

Doce Cafeína

10
Ago21

Feridas

Cafeína

Certa vez, em conversa com uma amiga, disse-lhe que comparo certas feridas da alma a uma situação que vivi:

Fiz o caminho a pé até Fátima por quatro anos consecutivos. Recordo que no primeiro ano fiz imensas bolhas nos pés, que eram diáriamente cosidas com uma linha e agulha por uma senhora muito doce que integrava no grupo de peregrinos. Seriam seis dias a caminhar. No terceiro dia, as dores eram tantas que tive receio de não conseguir e ter que desistir mas a minha força de vontade em chegar era muita que com o passar do tempo eu nem sentia mais as dores de tanta dor que eu tinha. E consegui chegar a Fátima. 

Certas feridas da alma são assim. Doem tanto que de tanto mexer acabam por nao doer mais.

09
Ago21

Sobre a vida

Cafeína

O Universo traz-nos e leva-nos pessoas.

Certas pessoas quando nos são retiradas não damos logo conta. No entanto, há outras que fazem um estrago incrivel ao nos serem retiradas.

A vida tem este mistério: O mundo pulsa, não pára enquanto se está destroçado e impulsiona-nos a seguir com mais ou menos forças. Não é fácil manter sempre a cabeça á tona de água enquanto somos tentados a afogar-nos num turbilhão de emoções que nos assola. Sempre achei que a intensidade das emoções tem o seu lado bom mas também tem todo um lado bem dramático. Somos todos crianças grandes, com choros e emoções escondidas, incompreendidas e quase a roçar no não-suportável. Uma vez disseram-me que o reerguer dói e que é nessa dor que se cresce e posso confirmar que sim, aliás, creio pois, que todos já o podemos confirmar mas na minha opinião ficam cicatrizes permanentes de choros solitários, de abraços cortados, sentimentos não tidos em conta e arrependimentos infundados e extemporaneos.

Hoje acordei a reflectir sobre isto, sabe-se lá o que está para vir.

29
Jul21

O pedido

Cafeína

Sou mãe de dois meninos.

Costumo falar com eles de tudo um pouco e tento despertá-los para as coisas importantes e que eu acho serem fundamentais para o futuro. Não costumo usar muitos filtros nem camuflar a realidade. Tento explicar-lhes de uma forma serena e mais leve que a vida, as pessoas, os acontecimentos e o mundo em si nem sempre são ou nos dão o que gostaríamos.

As partilhas de final de dia, ainda andam muito em volta "dos amiguinhos que disseram, fizeram, bateram". Tento estar atenta e fazê-los entender que já passei por aquilo e que não desvalorizo o que me relatam mas, tento também, que eles resolvam as suas situações e ganhem assim a autonomia adequada para a idade.

Ontem, no final do dia, o mais velho, que não chegou ainda aos dez aninhos, procurou-me pela casa e ao olhar para mim fitou os olhos e disse: " quero ir comer um gelado contigo, sentados os dois num banco de jardim. Mas só tu e eu. Achas que pode ser?"

Permaneci um pouco em silêncio, percebi o quanto aquilo será importante para ele e prometi  ir com ele comer o gelado.

Este momento fez-me cair a ficha e sentir no meu coração que ele está a crescer, que ele sente a falta da cumplicidade a sós e que aquele pedido tão simples, para ele terá um valor imenso.

 

 

22
Jul21

Silêncios

Cafeína

Sou uma pessoa que precisa de muitos momentos de silêncio e muitas são as vezes que faço parar o tempo para me encontrar comigo mesma, junto do mar.

E confesso que os meus parâmetros interiores não são todos de acordo com os parâmetros estipulados pela sociedade. Sinto que sou a ovelha negra de um rebanho enorme. 

E hoje estou aqui para partilhar algo que tenho sentido com frequência nestes ultimos tempos: a necessidade em deixar ir.

Ainda me separam uns poucos anos dos meus 40 anos mas sinto uma necessidade enorme de me manter equilibrada com o meu Eu Superior e com o Universo. Talvez seja comum a todas as pessoas mas... eu sinto que me faz falta começar a deixar ir e até sair de cena. Deixar a ir a dor, a mágoa, aquela pessoa que não chove nem molha seja em que medida for. Porque tudo o que não nos acrescenta e nos força a querer manter faz peso e é necessário simplesmente deixar ir. 

Dou por mim a ouvir longos desabafos disto e daquilo e permanecer em silêncio sobre todos eles, não porque não saiba o que falar mas porque me desgasta e o silêncio nunca me deixa mal. E eu prefiro retirar-me sabendo que estou em paz e que nada me aborrece ou estraga o dia. 

Sinto necessidade da prática do desapego. Sinto necessidade de paz. A palavra é essa mesmo: Paz. 

Não se chega a esta conclusão de um dia para o outro, chega-se a esta conclusão quando a determinada altura do caminho se observa a sola dos nossos sapatos e já só vimos os pés, porque a sola, essa já foi. Gastou-se.

Então decidi sentar-me e olhar para dentro de mim e agora não me apetece forçar nada, manter nada, ir atrás de nada. 

Estou a descansar à beira da estrada e a estudar as minunciosidades do meu caminho. Preciso saber que terras irei pisar para comprar um novo par de sapatos.

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